Há quem atribua características negativas ao Serviço Social e o aponte
como profissão de práticas e políticas assistencialistas, talvez a
denominação transmita um equivoco de significados, para estes indico
as obras de Marilda Vilela Iamamoto, Maria Lúcia Martinelli, José Paulo
Netto, Carvalho e tantos outros teóricos do Movimento de
Reconceituação do Serviço Social.
Após a II Guerra Mundial os países capitalistas lançaram estratégias em
defesa do capitalismo, pois temiam a expansão do socialismo, visto que
havia a construção do bloco socialista representado pela União
Soviética. Uma dessas estratégias foi a implantação de empresas
norte-americanas e européias na América Latina. Assim sendo, uma parte
da burguesia local (aliada aos EUA) era a favor do capital internacional
e a outra defendia o nacionalismo, isso provocou uma crise na
burguesia, sendo que a parte da burguesia atrelada aos estadunidenses
resolveu a crise com o golpe de 1º de abril de 1964, o golpe militar,
que em apoio à concentração do capital proibiu o sindicalismo e agravou a
exploração do/a trabalhador/a.
Com a erosão da base do Serviço Social tradicional iniciou a renovação
do Serviço Social brasileiro que se deu em três perspectivas: a
modernizadora baseada na teoria positivista; a de renovação do
conservadorismo baseada na teoria fenomenológica; e a de intenção de
ruptura baseada no marxismo. Aconselho a leitura de todas as
perspectivas, mas falarei um pouco sobre a terceira.
Perspectiva da Intenção de Ruptura :
Surge com a proposta de romper as práticas tradicionais do Serviço
Social, vinculadas aos interesses da classe dominante, discute a relação
entre a profissão e a sociedade capitalista. Foi manifestada no âmbito
dos movimentos democráticos e das classes exploradas e subalternas
(inicio dos anos de 1960) quando “ [...] O Serviço Social – de forma
visível, pela primeira vez- vulnerabilizava-se a vontades sociais (de
classe) que indicavam a criação, no marco profissional, de núcleos
capazes de intervir no sentido de vinculá-lo a projeções societárias
pertinentes às classes exploradoras e subalternas. (Netto, 2006, p.256)
Portanto, assistentes sociais que optaram politicamente por trabalhar a
favor dos explorados e subalternos conceberam as primeiras idéias de
intenção de ruptura das práticas tradicionais, uma vez que é preciso
lembrar que o objeto de trabalho do Serviço Social é a questão
social (resultante das relações de conflito entre capital x trabalho que
se manifesta em suas múltiplas expressões: desemprego, violência, fome,
discriminação e etc.), e agora as/os profissionais optaram em atuar em
prol dos trabalhadores/as (segundo Iamamoto trabalhador é tanto quem
está empregado quanto quem está desempregado), baseando-se na teoria marxista.
Vale ressaltar que essa perspectiva se propagou no período de crise da
ditadura, originando produções teóricas voltadas para as questões do
continente latino-americano, rompendo com práticas profissionais,
aumentando a participação política de assistentes sociais nos movimentos
sociais, sindicalistas e partidários, porém o movimento de
reconceituação do S. Social (que surge no âmbito da academia sendo
protagonizado por estudantes-militantes, docentes e abrangendo a
categoria de assistentes sociais) foi desfeito pelas ditaduras burguesas
e por divergências no próprio grupo de assistentes sociais. Assim
sendo, hoje existem ainda as três perspectivas, de modo que há docentes
que encaminham seus projetos conservadores e profissionais com práticas
atreladas á tendência de renovação do conservadorismo; portanto o
projeto ético-político-profissional hegemônico fundamenta-se na teoria
marxiana, se materializando no código de ética profissional
(1993) que norteia o pensar e o fazer profissional da(o) assistente
social.
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