Pessoal, esse texto é do Professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, Marcelo Badaró Mattos. O texto é pequeno, mas esclarecedor com bons argumentos em relação àqueles que são contrários às greves que estão ocorrendo pelo país, em defesa da educação pública. Os estudantes têm mais a ganhar ou a perder com a greve na Educação?
Boa leitura e boas reflexões!
Priscila Morais
As greves na universidade só param a graduação e prejudicam os estudantes de graduação…
Não é verdade que as greves só param as
aulas de graduação. Atividades de pesquisa e extensão também são
paralisadas pelos que participam das greves. Quando ingressei na
universidade essa questão sequer era levantada, porque não se fazia
diferença, quando uma greve começava, entre aulas na graduação e na
pós-graduação. Nas últimas duas décadas e meia, cresceu muito a pressão
sobre as pós-graduações para apresentarem indicadores quantitativos de
produtividade que são a base central de avaliações feitas pela CAPES e
que podem representar mais ou menos recursos financeiros, bolsas de
estudo e prestígio acadêmico. De lá para cá, cresceu também o número de
argumentos contrários à suspensão das atividades de pós-graduação em
função dessa pressão da CAPES.
No entanto, muitos docentes e programas
inteiros continuam a paralisar suas aulas na pós-graduação, buscando
contornar sempre que possível a pressão das agências de
fomento/avaliação, pois percebem que tal pressão não tem como
contrapartida a garantia dos recursos e condições de trabalho adequados
ao funcionamento dos programas com qualidade. Os comandos locais de
greve também são cientes de que algumas bancas e atividades são
agendadas com muita antecedência, significam despesas com passagens e
diárias já realizadas e autorizam excepcionalmente tais atividades. Os
que continuam trabalhando regularmente na pós-graduação durante as
greves, portanto, o fazem por decisão própria de furar uma greve,
utilizando os argumentos da especificidade das pós como biombos para
suas atitudes, e depois, ironicamente, acusam as greves de só paralisar a
graduação. Muitas vezes, os que dizem isso, são os mesmos professores
que no dia a dia dos cursos, menosprezam as aulas na graduação e
justificam que sua “excelência” os deveria liberar de tal “fardo” para
dedicação integral à pesquisa e pós-graduação.
Por outro lado, cabe sempre a pergunta: o
que realmente prejudica o estudante – de graduação ou pós – uma greve
que pode se estender por algumas semanas, defendendo a universidade
pública, ou a falta de condições adequadas de estudo e permanência na
Universidade?
Nessa greve que vivenciamos atualmente cujo motivo maior, além da defasagem salarial dos
docentes (motivo justo e digno, diga-se de passagem, pois todo
trabalhador assalariado tem direito à proteção mínima de seus
vencimentos face à inflação) é o conjunto de medidas destrutivas à
universidade pública, não há dúvidas da justeza do movimento para grande
parte dos estudantes. Afinal, faltam professores em muitos cursos, há
outros em que obras estruturais necessárias à construção de salas de
aulas, bibliotecas e laboratórios não foram executadas ou pararam pelo
meio, há falta de bandejões e alojamentos estudantis, as bolsas são
insuficientes e estão atrasando, entre muitas outras situações. Todas
motivadas por uma expansão de vagas discentes que não foi acompanhada do
necessário crescimento do número de docentes e do aporte de recursos
para infra-estrutura, manutenção e assistência estudantil. O que tem
sido muito agravado nos últimos meses pelas políticas de “ajuste fiscal”
do governo federal, que repassará R$15 bilhões de reais ao setor
privado através do FIES (financiamento estudantil), mas corta R$ 9,43
bilhões do orçamento do Ministério da Educação.
Por isso os estudantes da UFF e de outras
universidades fizeram suas assembleias e deliberaram pela greve. Porque
sabem que essa luta também é sua.
Curioso que os que argumentam que a greve
prejudica os estudantes, desconsideram completamente a posição coletiva
dos próprios estudantes. O que é bem ilustrativo de como enxergam sua
atividade docente e seus estudantes: são os portadores do conhecimento e
da verdade, que buscam iluminar os pobres e ignorantes estudantes, que
sequer percebem que estão sendo prejudicados com a greve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário