O Serviço Social se constitui numa profissão inscrita na divisão social do trabalho, situado no processo de reprodução das relações sociais, mobilizado pela burguesia e inserido no aparato burocrático estatal, das empresas e demais entidades privadas. Intervém, ainda, na criação de condições favorecedoras da reprodução da força de trabalho, através da mediação dos serviços sociais, previstos e regulados pela política social do Estado. Através da compreensão desse movimento contraditório abre-se a possibilidade para a profissão colocar-se a serviço de um projeto de classe alternativo àquele para o qual é chamada a intervir, pois embora constituída para servir aos interesses do capital, ela não reproduz monoliticamente as necessidades que lhe são exclusivas, participando das respostas às necessidades legítimas de sobrevivência da classe trabalhadora.
(Iamamoto & Carvalho, 1998: 93).
Por ser uma profissão de caráter interventiva, o Serviço Social realiza sua atividade no cotidiano, na medida em que este se constitui em produto histórico e enquanto vivência pelos sujeitos, sendo também aprendido como manifestações da própria história, na qual os agentes a produzem e reproduzem, fazendo-se nesse processo social. Para se poder compreender o cotidiano torna-se necessário não apenas não se reduzir aos aspectos mais aparentes, triviais e rotineiros; como também compreender que se eles são parte da vida em sociedade, não a esgotam e sim se tornam a expressão de um modo de vida, historicamente circunscrito cuja reprodução de suas bases é onde são gestados os fundamentos de uma prática inovadora. A descoberta do cotidiano possibilita a transformação da realidade, pois ele é o “solo” da produção e reprodução das relações sociais.
Assim, segundo Iamamoto e Carvalho,
O Assistente Social, através da prática direta junto aos setores populares, dispõe de condições potencialmente privilegiadas de apreender a variedade das expressões da vida cotidiana, por meio de um contato estreito e permanente com a população (...) aliada a uma bagagem científica, que possibilite ao profissional superar o caráter pragmático e empirista (...) intervenção, poderá obter uma visão totalizadora da realidade desse cotidiano e da maneira como é vivenciada pelos agentes sociais. O profissional, em sua prática de campo, interfere, em graus diversos de intensidade, na vida das pessoas com quem trabalha (...) a importância do compromisso social do Assistente Social, orientado no sentido de solidarizar- se com o projeto de vida do trabalhador ou de usar esse acesso à sua vida particular para objetivos que lhe são estranhos (...) caráter pessoal da relação (...) característica do exercício profissional (...) (1998: 114-5).
As instituições necessitam da adesão e concordância de seus agentes a fim de conseguirem concretizar as metas e estratégias que propõem, mas o Assistente Social possui relativa autonomia no exercício de suas funções institucionais, sendo co-responsável pelo rumo imprimido às suas atividades, pelas formas de conduzi- las, pela concepção teórico-prática da profissão e do seu papel na sociedade, incorporada e expressa pela categoria profissional em suas atividades cotidianas. Estas características profissionais demonstram o tipo de respostas que oferece às demandas do empregador ou lançar-se no esforço de propor e efetivar uma direção alternativa àquela proposta pelos setores dominantes para a intervenção técnica. Iamamoto & Carvalho, 1998:120).
A possibilidade de tomar essa posição a favor da classe trabalhadora a despeito das requisições do setor empregador somente se tornou possível devido ao contexto sócio-histórico, na medida em que o contingente profissional se expande, passando a ser recrutado fundamentalmente nas “camadas médias” da sociedade, sofrendo com os embates de uma política econômica amplamente desfavorável aos setores populares. A prática do Assistente Social passa a ser analisada a partir das implicações políticas do papel desse intelectual vinculado a um projeto de classe; rompendo com o papel tradicionalmente assumido e aderindo a um novo projeto de sociedade; buscando fundamentos científicos mais sólidos, ultrapassando a mera atividade técnica e questionando a orientação teórico-metodológica antes assumida. (Idem:121).
FONTE: http://www.nucleo.ufal.br
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