A indefinição ideológica dos nossos genes é apenas mais um numa longa lista de paradoxos que nos dividem.
Por Luis Fernando Veríssimo
O DNA é de esquerda ou de direita? Ele fornece argumentos para todos. Prova que todos nascem com o mesmo sistema de códigos genéticos e, portanto, são iguais (ponto para a esquerda), mas que cada indivíduo tem uma senha diferente (ponto para a direita, se bem que não necessariamente para os racistas). Na velha questão biologia x cultura, o DNA dá razão a quem diz que características adquiridas não são hereditárias, nenhuma experiência cultural afeta os genes transmitidos e a humanidade não ficará mais virtuosa – muito menos socialista – com o tempo. Mas a própria descoberta do DNA e todas as projeções que se tornaram possíveis com a manipulação do material genético mostram como o ser humano pode, sim, interferir na sua própria evolução e como existe nele uma determinação inata para o aperfeiçoamento. Parafraseando Marx: os cientistas sempre se preocuparam em compreender o ser humano, agora devem tratar de mudá-lo. Biologia não é, afinal, destino. Ao mesmo tempo, a eugenia é uma ciência com má reputação. Seu apogeu anterior foi nos experimentos nazistas durante a guerra, e o significado de “aperfeiçoamento” é uma questão aberta. Uma pessoa “melhora” tornando-se mais preparada, pela aparência, a capacidade física e o espírito empreendedor, para as competições da vida ou mais tolerante com a variedade humana?
A indefinição ideológica dos nossos genes é apenas mais um numa longa lista de paradoxos que nos dividem. É “de esquerda” ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e ao mesmo tempo o direito do Estado de tirá-la, embora não gostem que o Estado interfira em outras áreas. A direita valoriza o indivíduo acima da sociedade, que seria uma abstração, mas aceita a desigualdade social, ou o sacrifício de muitos indivíduos pelo sucesso de poucos, como natural. A esquerda muitas vezes atribui a um Estado impessoal ou a um líder super personalizado a incongruente realização de um humanismo igualitário. Et cetera, et cetera. E, aparentemente, o DNA não vai nos dizer se estamos condenados a ser contraditórios de uma maneira ou de outra, para sempre. Era só o que nos faltava, o DNA ser do centrão.
Feliz é a mosca, que tem mais ou menos a nossa estrutura genética, mas absolutamente nenhum interesse nas suas implicações.
Por Luis Fernando Veríssimo
O DNA é de esquerda ou de direita? Ele fornece argumentos para todos. Prova que todos nascem com o mesmo sistema de códigos genéticos e, portanto, são iguais (ponto para a esquerda), mas que cada indivíduo tem uma senha diferente (ponto para a direita, se bem que não necessariamente para os racistas). Na velha questão biologia x cultura, o DNA dá razão a quem diz que características adquiridas não são hereditárias, nenhuma experiência cultural afeta os genes transmitidos e a humanidade não ficará mais virtuosa – muito menos socialista – com o tempo. Mas a própria descoberta do DNA e todas as projeções que se tornaram possíveis com a manipulação do material genético mostram como o ser humano pode, sim, interferir na sua própria evolução e como existe nele uma determinação inata para o aperfeiçoamento. Parafraseando Marx: os cientistas sempre se preocuparam em compreender o ser humano, agora devem tratar de mudá-lo. Biologia não é, afinal, destino. Ao mesmo tempo, a eugenia é uma ciência com má reputação. Seu apogeu anterior foi nos experimentos nazistas durante a guerra, e o significado de “aperfeiçoamento” é uma questão aberta. Uma pessoa “melhora” tornando-se mais preparada, pela aparência, a capacidade física e o espírito empreendedor, para as competições da vida ou mais tolerante com a variedade humana?
A indefinição ideológica dos nossos genes é apenas mais um numa longa lista de paradoxos que nos dividem. É “de esquerda” ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e ao mesmo tempo o direito do Estado de tirá-la, embora não gostem que o Estado interfira em outras áreas. A direita valoriza o indivíduo acima da sociedade, que seria uma abstração, mas aceita a desigualdade social, ou o sacrifício de muitos indivíduos pelo sucesso de poucos, como natural. A esquerda muitas vezes atribui a um Estado impessoal ou a um líder super personalizado a incongruente realização de um humanismo igualitário. Et cetera, et cetera. E, aparentemente, o DNA não vai nos dizer se estamos condenados a ser contraditórios de uma maneira ou de outra, para sempre. Era só o que nos faltava, o DNA ser do centrão.
Feliz é a mosca, que tem mais ou menos a nossa estrutura genética, mas absolutamente nenhum interesse nas suas implicações.
Fonte: Jornal “Zero Hora” nº 15390, 11/10/2007.
olá,sou estudante de serviço social e gostei do blog.estou escrevendo sobre cotidiano.sou de canoas rs.
ResponderExcluirolá gostei do teu blog.sou estudante de serviço social sou de canoas rs.
ResponderExcluirOlá! Que bom que gostou, volte mais vezes... :)
ResponderExcluirAh e o blog está aberto a colaborações, se quiser postar algo por aqui é só entrar em contato.