Este texto é o resumo do livro: MONTAÑO, Carlos. A Natureza do Serviço Social (http://servicosocialecotidiano.blogspot.com.br/2012/11/livro.html), de um aluno de Serviço Social da UFAL, Federal de Alagoas - Campus Penedo, Jalo Nunes. A meu ver, um texto bem escrito e esclarecedor, vale muito a leitura.
Fonte: Blog DESCANSO PARA A LOUCURA
Boa leitura!
Priscila Morais
CAPÍTULO I – A NATUREZA DO SERVIÇO
SOCIAL NA SUA GÊNESE:
Inicialmente o autor informa que é antigo este debate, em que autores e
profissionais trilham por duas determinadas teses (escolhendo uma ou outra), na
esperança de melhor encontrar respostas para a explicação da natureza e da
gênese do Serviço Social. Estas teorias contêm um poder literato heurístico e
teórico-metodológico que vai além da simples explicação desta gênese. E é
através da apreensão de uma ou de outra tese, que poderemos ser capazes de compreender
o tripé que envolve políticas sociais,
gênese do Serviço Social e legitimação. Notando, essencialmente, que estas
teses não são de fato antagônicas, mas que convivem de forma pacífica, gerando
certas semelhanças, onde o que mais as difere é a abrangência com que tratam a
questão da origem do Serviço Social, uma de maneira mais particular e
individualista e outra de maneira totalizante.
1. A
GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL: duas teses sobre a natureza profissional:
Existem duas teses que, necessariamente não são antagônicas, mas que são
opostas e que tratam da gênese do Serviço Social, de maneira que aparecem como
alternativas e são reciprocamente excludentes.
1.1 A perspectiva Endogenista:
Sustenta que a origem do Serviço Social advém de um processo de evolução,
organização e profissionalização das antigas formas de ajuda, da caridade e da
filantropia, que se encontra, há certo tempo, atrelada à ‘questão social’.
Maioria dos teóricos do Serviço Social sustenta esta tese, o que
significa que ela é bastante difundida e ‘debatida’. Trata-se de um conjunto de
teóricos que defendem a ideia do Serviço Social tradicional mais os autores que buscam ou têm a intenção de ruptura. Nesta mesma
perspectiva há autores que entendem e que aceitam toda e qualquer forma de ajuda
como antecedente do Serviço Social, assim como há aqueles que compreendem essas
formas de ajuda atreladas à organização e vinculadas à ‘questão social’.
Os principais representantes desta tese são: Herman Kruse, Ezequiel Ander-Egg, Natálio Kisnerman, Boris Alexis Lima,
Ana Augusta de Almeida, Balbina Ottoni Vieira, José Lucna Dantas, etc. Analisaremos
aqueles que mais se destacam neste debate.
Herman Kruse (1972) usando-se
do pensamento de Greewood entende
que o “serviço social é uma tecnologia,
pois sua ação procura a mudança” (KRUSE apud
MONTANO, s/d, p. 10). Deste modo ele identifica um paradigma do Serviço Social,
justamente porque o coloca como aplicação de teorias, ou, no mínimo,
entendendo sua prática como fonte de teorias.
Com certa semelhança, Natálio
Kisnerman (1980) tenta remeter a origem da fundação do Serviço Social para
o Positivismo de Augusto Comte, remontando para o século XIX. Compreende a
gênese do Serviço Social identificada como uma forma de ajuda sistemática, de
orientação Protestante e, por outro lado, como uma forma prática da Sociologia.
Para ele “o processo do Serviço Social é
dialético (...) e que durante muitos anos não se pode confrontar com outra
forma de auxílio ele aparece como antítese, negando a Assistência Social como
momento, mas fica alienado a não fundar uma nova teoria” (KISNERMAN apud MONTAÑO, s/d, p. 11).
Ainda seguindo praticamente a mesma linha de raciocínio Ezequiel Ander-Egg (1975) e Juan Barriex (s/d.) fazem uma perfeita
distinção entre Serviço Social e Assistência Social, sendo este último uma
profissão "paramédica, parajurídica,
asséptica, tecnocrática e
desenvolvimentista". Já Trabalho Social é a ação conscientizadora que
intervém de forma revolucionária. Deste modo “a atenção aos pobres e desvalidos, durante a época da expansão
capitalista, surge principalmente nos ambientes cristãos (...), implicando que
a Assistência Social que se organiza então se assemelhe àquela desenvolvida na
Idade Média” (ANDER-EGG apud MONTAÑO, s/d, p.
12).
Por outro lado, Boris Aléxis Lima (1986),
identifica quatro grandes etapas que caracterizam o Serviço Social,
historicamente falando, são elas: pré-técnica,
técnica, pré-científica e científica.
Deste modo compreende-se uma ‘pseudo-evolução’ de uma fase empírica,
não-institucionalizada para uma atividade metodologicamente científica e
baseada numa postura profissional. Para esse autor, a história do Serviço
Social, “encontra-se ligada aos chamados
‘precursores do trabalho social’, os quais elaboraram as primitivas formas de
caridade e filantropia no nascente capitalismo” (LIMA apud MONTAÑO, s/d, p. 13).
Ramificado a preocupação do Serviço Social Argentino, Norberto Alayón (1980), defende que a
gênese e especificidade do Serviço Social decorrem de um processo que levou a
institucionalização das tarefas ‘benéfico-assistenciais’, originando a
profissão que conhecemos na atualidade.
Inserido num contexto de análise do Serviço Social, a partir de uma
maneira tradicionalista, José Lucena
Dantas (in Batista, 1980), classifica
a compreensão do Serviço Social em três fases distintas:
O modelo assistencial, que define a natureza das práticas e da problemática social que antecederam historicamente ao aparecimento do Serviço Social; o modelo de ajustamento, referindo-se especificamente ao sentido de institucionalização das práticas conhecidas como serviço social e define natureza do serviço social norte-americano; o modelo de desenvolvimento e mudança social, ‘ainda em elaboração’ e ao qual pertencem duas correntes: a do serviço social revolucionário, eminentemente político e a do serviço social para o desenvolvimento, eminentemente científico (apud MONTAÑO, s/d, p. 13).
Assim como tantos outros teóricos, o autor anteriormente citado situa os
‘antecedentes’ do Serviço Social nos momentos históricos da Idade Média.
Ainda mais radical em suas compreensões é Balbina Ottoni Vieira (1977). Ela diz
que “o serviço social só foi conhecido
com este nome no século XX. Mas o fato ou o ato de ajudar o próximo, corrigir
ou prevenir os males sociais, levar os homens a construir seu próprio
bem-estar, existe desde o aparecimento dos seres humanos sobre a terra” (apud MONTAÑO, s/d, p. 14). Deste modo ela
entende que falar de caridade, filantropia e Serviço Social, é falar da mesma
coisa, o que muda é a forma de operar e de organização, de maneira que houve
evoluções no modo de atuar, mas o cerne da ‘profissão’ continua o mesmo.
No seu trabalho mais recente, García
Salord (1990) situa o nascimento do Serviço Social no século XX, em
decorrência de três elementos: institucionalização
de beneficência privada; ampliação das funções do Estado, encarregado da
confecção e implementação das políticas sociais e o desenvolvimento das
ciências sociais. A profissão, então, decorre do exercício da caridade, num
ato de solidariedade e amor ao próximo, o que envolve o ato religioso e o exercício
ético.
Esta tese anteriormente abordada, independentemente de seus defensores e
de suas posições político-ideológicas e teórico-metodológicas, entende que
ocorreu a profissionalização e sistematização da caridade e da filantropia.
É importante situar o termo Endogenista:
trata-se de uma referência a ideia de que esta tese aborda e entende a
profissão como sendo vista a partir de si mesma e o Serviço Social ganha,
assim, uma autonomia histórica diante da sociedade, das classes e das lutas
sociais. Esta tese defende a gênese e especificidade do Serviço Social, através
de uma clara visão particularista ou focalista, pois compreende o surgimento
desta profissão atrelada às atividades e ações de sujeitos particulares, como
se fosse resultado de opções pessoais e entende a história da própria sociedade
como apenas uma ‘crônica’ que segue paralela ao desenvolvimento do Serviço
Social, sem nele influenciar decisivamente e diretamente, assim como este
evolui tranquilamente sem ser influenciado e muito menos criado a partir da
conjuntura sócio-econômica e histórico-social que nele deveria se impor.
A história e a sociedade são postas apenas como o
cenário de desenvolvimento profissional (...) como uma maquete que se insere
uma peça autônoma do contexto. (...) Desta forma, os fatos, tanto do Serviço
Social quanto da história, são naturalizados,
se constrói a ‘história’ (...) sem recuperar a processualidade histórica,
num claro etapismo. (...) Separa-se o Serviço Social da sociedade e
autonomiza-se o primeiro; definem-se as etapas para um e para o outro (...);
vincula-se cronologicamente as etapas de um (do serviço social) e às da outra
(sociedade), sendo estas últimas os marcos onde se situam as primeiras
(MONTAÑO, s/d, p. 17).
Os autores desta tese não se preocupam em compreender a gênese e
especificidade (o surgimento do serviço social) atrelada à realidade social,
política e econômica, de maneira que sua relação com a história parece ser
circunstancial, adjetiva, acidental; assim como não se consideram as lutas
sociais e a pressão da classe proletária quando massacrada pela classe
hegemônica; não se analisa o Estado e sua crescente intervenção, através das
políticas sociais, para refrear as manifestações. Considera-se apenas, o serviço social, como tendo uma função
autônoma, com prestação de serviços a pessoas, grupos, comunidades
particulares. E sua gênese, é aqui considerada, como uma evolução das
anteriores formas de assistência e ajuda.
Segundo o autor esta tese é incompleta, já que trilha por um caminho, em
que o Serviço Social é visto como uma atividade autônoma, de maneira a
desprezar todas as influências conjunturais, desde sua criação até a sua
profissionalização. Ele esta correto, já que parece pueril compreendê-lo (o
serviço social) desta forma, já que é evidente que seu surgimento foi fomentado
por causa da pressão da classe pauperizada, que já sofria demais com os
problemas da ‘questão social’; acompanhando isso, a classe burguesa,
estrategicamente, conferiu uma identidade ideológica à ação dos primeiros
agentes (isso com o apoio da Igreja Católica e do Estado – que implementava
cada vez mais suas ações através das políticas sociais), de maneira a amenizar
e apaziguar os conflitos sociais existentes.
1.2 A
perspectiva Histórico-Critica: entende que o Serviço Social é resultado da
síntese dos projetos político-econômicos, operando no desenvolvimento
econômico, reproduzindo-se de maneira material e ideológica, a partir de
estratégias da classe hegemônica, inserida no contexto do capitalismo
monopolista, onde o Estado toma para si a responsabilidade das precariedades
inseridas na compreensão da ‘questão social’.
Os principais defensores desta tese são: Marilda Villela Iamamoto, Raul de Carvalho, Manuel Manrique Castro, Vicente
de Paula Faleiros, Maria Lúcia Martinelli, José Paulo Netto, etc. Todos
eles entendem que o Assistente Social desempenha um papel de cunho político e o
que caracteriza a profissão é justamente a posição no contexto em que este
profissional está inserido. Faremos aqui um breve resumo sobre o pensamento de
cada um.
Segundo Marilda Villela Iamamoto (1991,
1992 e 1992b) “efetua-se um esforço de
compreender a profissão historicamente situada, configurada como um tipo de
especialização do trabalho coletivo dentro da divisão social do trabalho
peculiar à sociedade industrial” (apud MONTAÑO, s/d, p. 19). Ela deixa claro que o
assistente social deve cumprir sua função dentro da ordem social e econômica,
como que sendo mais uma engrenagem da divisão sócio-técnica do trabalho, deve,
portanto, participar da reprodução tanto da força de trabalho, quanto da ideologia
dominante. A profissão é - se entendida assim - um produto histórico, sendo
também produto e reprodutora das relações sociais. A autora acrescenta ainda
que o Assistente Social é solicitado não
pelo seu caráter (...) técnico-especializado de suas ações, mas antes pelas
funções de cunho ‘educativo’, ‘moralizador’ e ‘disciplinador’ (...) É o
profissional da coerção e do consenso, cuja ação recai no campo político” (Idem, p.
20).
Em se falando teórico-metodologicamente, José Paulo Netto (1992) segue uma linha de raciocínio semelhante.
Defende que é na intercorrência do conjunto de processos econômicos,
sócio-políticos e teórico-culturais (ocorridos dentro da ordem burguesa) e no
capitalismo dos monopólios, que se geraram as condições favoráveis ao
surgimento da gênese e da especificidade do Serviço Social, possibilitando sua
emergência como profissão, nos países europeus. Deste modo entendido, a
profissionalização ocorre dentro da ordem monopólica. Não é, portanto, “a continuidade evolutiva das protoformas ao
Serviço Social que esclarece a sua profissionalização, e sim a ruptura com
elas” (apud MONTAÑO, s/d, p. 21).
O Serviço Social é uma dentre tantas ‘especializações’ ocorridas,
formuladas e implementadas pelo conjunto das políticas sociais, próprias deste
novo estágio de capitalismo monopolista e ascensão burguesa, para desempenhar um
papel e, subordinada à divisão sócio-técnica, executar as políticas públicas. É
ainda, dinamizado e estimulado pelo
projeto conservador que contempla as reformas dentro deste sistema. (Idem). É também resultado das lutas
sociais e do processo de amadurecimento da classe proletária, que mesma sendo
alienada pela atividade desse profissional, ainda assim, tratava-se de ‘uma
conquista’.
Já Manuel Manrique Castro (1993),
preocupa-se em determinar que forças concorreram para a gênese do Serviço Social
e que pessoas participaram dela. Ele assegura que:
Diversas
modalidades de ação social passaram a sofrer alterações substanciais; mudada a
perspectiva de uma função, reservam-se para elas – e este é o caso do serviço
social - certas tarefas que requisitavam níveis especiais de preparação (...)
as formas de ação social não emergem ou sucumbem segundo a vontade dos seus
agentes; ao contrário, são objetivações da situação social prevalecente,
expressando, à sua maneira, as características das sociedades aonde articulam
novas relações de produção (apud MONTAÑO, s/d, p. 22).
Sua preocupação é visível, em estabelecer a função concreta do Serviço Social,
isto é, a ação que desempenha na realidade prática.
Ainda nesta perspectiva temos Maria
Lúcia Martinelli (1991), que defende que a emergência do Serviço Social
(seja na Europa ou nos EUA), partiu de uma vontade e empenho da classe
burguesa, que juntamente com a Igreja Católica e o Estado intervencionista,
buscavam desarticular e desmobilizar a ação da classe pauperizada, entende,
portanto, que o Serviço Social é um produto histórico das contradições próprias
do modo de produção capitalista.
Para ela “a marca do capitalismo e
do conjunto de variáveis subjacentes – alienação, contradição, antagonismos – é
[então] uma profissão que nasce
articulada com um projeto de hegemonia do poder burguês como uma importante
estratégia de controle social, como uma ilusão de servir” (apud MONTAÑO, s/d, p. 23).
Nota-se que sua compressão permeia por um Serviço Social que tem caráter
controlador, integrador e, deste modo, inserido num contexto político,
necessário para manter a ordem social, envolvido por um véu de filantropia,
‘fetichizando’ sua prática, o que lhe conferem a ilusão de servir e o
confundem, muitas vezes, com as antigas formas de ajuda, caridade e
filantropia.
Destaquemos agora a pensamento de Vicente
de Paula Faleiros (1993) que nega veemente a existência de um Serviço
Social anterior ao século XX. Fundamenta deste modo, o Serviço Social na
negação dos antagonismos, atuando na prática para ‘camuflar’ as mazelas
sociais.
O Serviço Social, de acordo com Faleiros “nasceu dependente de fatores que guardam relação com o surgimento do
capitalismo: o desenvolvimento das forças produtivas na metrópole e o
desenvolvimento das técnicas e da ciência (...)”. Isso leva a um paradigma “das relações de força, poder e exploração” (apud MONTAÑO, s/d, p. 25).
O que mais difere esta tese é que, diferentemente da primeira, parte de
uma visão totalizante. Vendo, assim,
a profissão, como resultado da síntese de projetos enfrentados e da estratégia
da classe hegemônica, num contexto de capitalismo monopolista, assim como os
profissionais são vistos como atores sociais coletivos, determinados
historicamente e inseridos numa determinada conjuntura e a luta de classes é
vista como um verdadeiro marco. É justamente em meio a esses conflitos que
surgem também o desenvolvimento e ampliação sobre as questões referentes aos
direitos civis, políticos, sociais, favorecendo a geração da
institucionalização das políticas sociais.
O Serviço Social passa a ser requisitado não somente no âmbito público,
mas adentra também a esfera privada, pois a empresa passa a ‘preocupar-se’ com
as refrações do processo de exploração do trabalho, na tentativa, evidente, de
aumentar a produção, dando uma ‘melhor qualidade’ de vida ao seu trabalhador. É
em atuações com esta que o profissional “recebe,
via de regra, (...) um mandato institucional de agente conciliador e
apaziguador de conflitos de interesses entre empresa e empregados, levando este
controle para além da indústria até o espaço familiar do trabalhador” (MONTAÑO, s/d, p.
28).
Políticas sociais são, portanto, “instrumentos
privilegiados de redução de conflitos, que contém conquistas populares, sendo
estas travestidas de concessões do Estado e/ou empresa” (Idem). Elas são, então, instrumentos
focalizados em cada umas das refrações da ‘questão social’ fragmentadas, o que
dá certamente respostas pontuais às suas instituições implementadoras. Já o
Assistente Social “aparece como um ator
subalterno e com uma prática basicamente instrumental. Seu campo privilegiado
de trabalho é o Estado (...) e a base de atuação é conformada pelas políticas
sociais” (CARVALHO; MARTINELLI apud MONTAÑO, s/d, p.
30).
CONCLUSÃO
As duas teses anteriormente apresentadas são radicalmente distintas, no
que diz respeito às conclusões adversas que chegam sobre a questão da natureza
do Serviço Social, isto é, sua funcionalidade e legitimidade.
Enquanto na primeira tese, a natureza e funcionalidade é obtida através
da compreensão do Serviço Social consistindo numa forma de ajuda (uma evolução
e organização destas ‘protoformas’); na segunda esta compreensão vai além e, é
entendida a partir de sua funcionalidade atrelada à ordem burguesa, quando o
Estado torna-se responsável pelas mazelas da 'questão social', usando-se das
políticas sociais.
Deste modo, enquanto a primeira aceita e defende a continuidade existente
entre Serviço Social atual e formas anteriores de ajuda, filantropia e até
caridade; a segunda percebe e defende que houve, de verdade, uma ruptura na
essência funcional do Serviço Social.
Qual das teses é a que melhor explica a gênese e especificidade, natureza
e funcionalidade do Serviço Social? Eis uma das perguntas que ficam, ao término
da leitura, pois ambas se embasam muito bem, quando querem ser aceitas, se
possível universalmente. A sensação que fica é que a primeira tese preocupa-se
em não perder aquele ‘fio da meada’ que conduziu a atividade dos primeiros
agentes até a profissionalização desta atividade, de maneira que é até
compreensível, pois é impossível pensar o surgimento de uma profissão
praticamente do nada, apenas da vontade de alguns organismos (burguesia/igreja
Católica) tendo em vista apenas seus interesses. No entanto, esta tese ‘peca’
quando não incorpora em suas considerações o ‘fervilhar’ da sociedade, isto é,
as demandas por ela exigidas e as pressões tipicamente daqueles que precisam e
só podem recorrer ao Estado (em primeira instância). A segunda, por sua vez, dá
ênfase total a conjuntura da época, como alavanca principal e inicial para a
profissionalização do Serviço Social, mas por outro lado, parece esquecer as
práticas anteriormente exercidas, como se, num passe de mágica, tudo que se
executava fosse esquecido e, sob a tutela da classe burguesa e do Estado,
exercia-se uma nova ação, totalmente livre de influências anteriores e embasada
em novos aprendizados, para suprir necessidades novas, movidos agora, pela
‘monstruosidade’ da ‘questão social’ que assustava a todos e não esperava para
ser, ao menos, encoberta, como se anteriormente, ela não existisse, como se,
apenas num segundo momento, dava-se ‘nomes aos bois’.
Mas é importante finalizar com as sábias palavras do autor que diz, de
maneira a deixar estas duas teses ainda mais imbricadas: “considerando-se a relação “Serviço Social-formas de ajuda”, se na
primeira tese a natureza é a mesma, tendo características diferentes, na
segunda a natureza é distinta, tendo características semelhantes” (MONTAÑO, s/d, p.
31/32).
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