Eis aqui, a nossa breve saudação a esse grande Homem da história da humanidade, Nelson Mandela.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
A pobreza no debate contemporâneo
Parte 3
Referência:
SIQUEIRA. Luana. Pobreza e serviço social: diferentes concepções e
compromissos políticos. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2013.
Além da
perspectiva liberal, neoliberal e marxista sobre a pobreza, existem abordagens
diversas sobre a mesma, embora não se inscreva explicitamente nas correntes de
pensamentos citadas anteriormente, se apresentam como análises de relevância no
debate contemporâneo sobre a pobreza.
Inicialmente trataremos da compreensão
da pobreza partindo de análises propostas por duas instituições de grande
relevância política, ideológica, econômica, social e cultural – a Igreja
Católica, com base na Encíclica Rerum Novarum e o Banco Mundial.
A Encíclica Rerum Novarum foi escrita em 1891
em resposta à publicação do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels. A
Encíclica publicada pelo Papa Leão XIII, representaria o que Siqueira (2013),
chama de “manifesto do Vaticano” e o que para a autora, representou uma clara
posição da Igreja Católica a favor dos interesses do grande capital.
Segundo a compreensão de Siqueira (2013), a concepção de pobreza a
partir da Encíclica, trata-se de uma pobreza que deve ser aceita pacificamente,
na medida em que não seja uma humilhação, sendo o pobre aquele sujeito que não
deve envergonhar-se de sua condição, mas ter orgulho do pouco que possui
através de seu trabalho. A solução para o problema da pobreza na sociedade,
apontada pela Encíclica é a caridade, como um valor atribuído aos cristãos.
Em síntese, concebe-se a pobreza como “natural”
produto das desigualdades e diferenças individuais, as capacidades e esforços diversos,
o pobre como “classe inferior” “em situação de infortúnio e de miséria
imerecida”, como “deserdados da fortuna” e a riqueza é entendida como
“propriedade particular”, produto do esforço de cada um, constituindo um
“direito natural” que é legitimado e sancionado pela lei dos homens e divinas e
protegida pelo Estado. Assim as formas de enfrentar a pobreza sustentam-se na
caridade e benevolência sinceras, em que o trabalhador e o pobre devem se
resignar e aceitar com paciência a sua condição, evitando a “solução
socialista”, o conflito de classes, mas buscando a conciliação entre elas,
mediante o respeito de seus deveres como operário e como patrões. O fim é a
manutenção da ordem, sendo o desafio e a missão para os ricos serem generosos e
os pobres abnegados e sem inveja do patrimônio alheio”. (SIQUEIRA. 2013, p.116).
Ao Estado atribui-se a função de assegurar a propriedade privada,
legitimada pela igreja como um direito natural, fruto de capacidades e esforços
individuais. O Estado também tem a função de intervir e preservar a ordem
social, numa tentativa de convencimento de uma neutralidade que não existe.
Tratando agora sobre o Banco
Mundial, este concebe a pobreza sob uma ótica multilateral, em um cenário no
qual o avanço neoliberal atribui ao Estado uma intervenção mínima no social e
máxima para o desenvolvimento do capital. Sob essa perspectiva, o Banco Mundial
promove ações políticas de alívio da pobreza, através de mecanismos de ajuda internacional mediante transferências de capitais e tecnologias. Com isso, o
Banco Mundial vem se tornando o principal promotor das políticas de combate à
pobreza, sobretudo nos países periféricos.
O relatório do Banco Mundial de 1990 trata da
pobreza no mundo em desenvolvimento, logo tem um enfoque maior na população
mais pobre entre as pobres, buscando a medição qualitativa e quantitativa da
pobreza. O relatório da década de 90 classifica a pobreza com base na situação
econômica, medida pelo (PNB) Produto Nacional Bruto ou renda per capita. Assim,
os indicadores de renda irão conceituar a pobreza. Ainda nesse mesmo relatório,
a estratégia do Banco Mundial para reduzir a pobreza, baseia-se na
transferência de renda, atividades laborativas e promoção de atividades ligadas
à assistência.
Na década de 2000 a estratégia de
redução da pobreza do BM é modificada, agora suas ações baseiam-se na promoção
de oportunidades, autonomia e segurança dos pobres. Segundo Siqueira (2013), o
relatório do BM de 2000/2001 amplia o seu conceito de pobreza, passando a
considerar outros fatores que determinam a condição de pobreza. “A estratégia
apresentada nesse relatório reconhece que a pobreza é mais do que renda ou
desenvolvimento humano inadequado; é também vulnerabilidade, falta de voz,
poder e representação”. (Siqueira, 2013, p.120). Diante disso, o Banco mundial
passa a conceber a pobreza sob uma perspectiva multidimensional, supostamente
mais abrangente que a visão econômica.
Segundo Siqueira (2013), os documentos
produzidos pelo Banco Mundial representam seus próprios objetivos, que são o de
fomentar e promover as políticas de combate à pobreza em articulação com os
governos mundiais dependentes de sua ajuda. O BM pretende identificar,
quantificar e qualificar os pobres.
Com a proposta de construir um mundo sem pobreza, o BM na verdade a
reforça, segundo Siqueira, incentivando a acumulação da riqueza socialmente
produzida e com ela as contradições inerentes às dívidas públicas, às
“soluções” emergenciais e temporárias das mais desumanas formas de vida,
estruturadas pelos interesses da ideologia neoliberal.
Priscila Morais
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
A pobreza no liberalismo de Smith e Keynes e no neoliberalismo de Hayek.
Parte 2
A riqueza e a pobreza na fase do liberalismo clássico, concebida por
Adam Smith, segundo Siqueira, remete a uma questão de liberdade ou escolha,
logo nesse sentido, compete ao indivíduo pro meio de suas capacidades e
esforços restritos os bons ou os maus resultados referentes à sua ascensão
econômica social.
Para Smith, a pobreza e a riqueza são dois processos simultâneos, uma
gera a outra. O autor afirma: “onde quer que haja grande propriedade, há grande
desigualdade, Para cada pessoa muito rica deve haver no mínimo quinhentos
pobres e a riqueza de poucos supõe a indigência de muitos.” (SMITH apud
SIQUEIRA, 2013, p.47).
Dessa forma, a pobreza pra Smith, se expressa por meio do atraso
econômico, logo este seria um problema indiretamente passível de se eliminar,
levando em consideração o seguinte pensamento: “É o crescimento da produção de
todos os setores econômicos, decorrente da divisão do trabalho, que produz numa
sociedade bem governada, essa opulência universal, que se estendem as camadas
inferiores da população.” (Smith apud
Siqueira, 2013, p.47).
Smith presumia que o progresso econômico de um capitalismo dinâmico com
livre concorrência promoveria a eliminação da pobreza com a geração de empregos
e renda, assim o padrão de vida dos trabalhadores subiria com o aumento
progressivo das taxas salariais e da produtividade do trabalho.
A pobreza no liberalismo de Keynes se caracteriza pela incapacidade para
o consumo, levando a uma queda da demanda efetiva do mercado, que por sua vez é
resultante de escolhas individuais. Diferente do liberalismo clássico de Smith
que culpabiliza o indivíduo por sua condição de pobreza, o liberalismo de
Keynes responsabiliza o sistema pelo enfrentamento da pobreza, porém não há
nesse pensamento se quer o mínimo de resquício de um trato histórico critico
sobre o “fenômeno” da pobreza, visto que Keynes se opunha ao pensamento
marxista, seu interesse era a reprodução do sistema capitalista com uma
proposta de Estado que alterou a leitura liberal clássica, um Estado que ocupa
o papel de restabelecer o equilíbrio econômico estimulando a própria economia
de modo a se tornar um Estado intervencionista.
No neoliberalismo de Hayek a pobreza é fundamentada nos princípios
liberais, logo torna a ser vista como questão de responsabilidade individual,
sendo a desigualdade necessária, pois serve para impulsionar o desenvolvimento.
Hayek classifica o pobre como o sujeito que fracassa na livre concorrência do
mercado.
O que fazer com os pobres? Hayek dirá: “existem perdedores;
eles são pobres por que são perdedores e é claro que o Estado não pode ser
insensível a isso”. O que dizer então das bolsas? Dar bolsas... Bolsas e não
direito social organizado em torno do trabalho. Bolsa para aliviar o sofrimento,
para aliviar a pobreza. [...] Assim eles classificam: “aqui nos temos a faixa
dos extremamente pobres... estes ganham a bolsa X”. Vocês sabem do que eu estou
falando. Bolsa assistência e não mais seguridade social. É dessa forma que são
estruturadas as políticas dos anos 1980 e 1990 em diante. (Leher, apud
Siqueira, 2013, p. 78 e 79).
A desigualdade para Hayek seria as
diferentes condições de cada indivíduo no processo da concorrência. A
desigualdade não advém de um sistema estruturalmente desigual, mas da desigualdade
de competências individuais, sendo assim para o autor, não há qualquer
responsabilidade do modelo de produção vigente no sucesso ou insucesso dos
indivíduos no livre jogo do mercado. Para isso, se faz necessário um Estado que
garanta essa liberdade, abrindo mão da regulação desse mercado. Com isso, a
política social compreendida como emergencial e focalizada na parcela mais
pobre da população é aceita pelo neoliberalismo, desde que não prejudique o
livre jogo do mercado.
A
resposta à pobreza na lógica neoliberal passa a ser dirigida a partir de
programas sociais, numa lógica de focalização, privatização e descentralização.
O principio de universalização das políticas sociais são claramente
substituídos por princípios de restrição aos mais pauperizados, o que apresenta
uma política social residual que intervém somente no extremo necessário, que
não pode ser resolvido pelo mercado, pela família, pela comunidade ou por ação
filantrópica da sociedade civil via terceiro setor, que segundo Siqueira
(2013), surge no neoliberalismo para legitimar os processos que deslocam a
centralidade do Estado na responsabilização da questão social.
Priscila Morais
Referência:
SIQUEIRA. Luana. Pobreza e serviço social: diferentes concepções e
compromissos políticos. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2013.
sábado, 16 de novembro de 2013
A pobreza na concepção marxista
Este será o primeiro de uma série de pequenos textos, sobre pobreza, que este blog pretende discutir. Diferentes concepções, posicionamentos, teorias e tudo mais que envolva a problemática social da pobreza. A intenção aqui não é defender perspectivas teóricas, mas tratar sobre cada uma de forma a explorar o que de melhor elas tenham a agregar a cerca dessa discussão.
A pobreza na concepção marxista
Para a perspectiva marxista, a pobreza jamais pode ser analisada
separadamente da riqueza, pois se tratam de uma unidade contraditória de
opostos. Para a tradição marxista a concentração de riqueza é uma categoria
fundamental na análise da pobreza.
Segundo Siqueira (2013), Para Marx, a pobreza não é apenas um aspecto
marginal ou um problema de ordem colateral, trata-se de um momento central e
fundante da acumulação capitalista.
Para compreender a pobreza na sociedade capitalista, segundo essa
perspectiva, é necessário conhecer determinações impostas historicamente pelas
contradições próprias desse modelo de sociedade. Essas determinações constituem
a realidade concreta na qual os sujeitos se encontram.
A pobreza, no modo de produção capitalista não pode ser vista como algo
isolado, distante da realidade posta por essa sociedade. A pobreza não é
produto de um insuficiente desenvolvimento, ela é produto necessário do
capitalismo que acumula riqueza ao mesmo passo que produz pauperização absoluta
e relativa. Desse modo, o desenvolvimento sob a ótica capitalista não apenas
produz a pobreza como também a amplia. A riqueza produzida na sociedade do
capital não gera sua distribuição, mas sua acumulação nas mãos de poucos que se
apropriam desta mediante a exploração.
Dessa forma, segundo Siqueira (2013), a pobreza não se caracteriza como
aspecto residual e transitório do capitalismo, é estrutural e resultado do seu
próprio desenvolvimento. O capitalismo não anula nem a pobreza e nem a riqueza,
pois a produção de ambas é orgânica.
A pobreza é formada pela lógica da acumulação da sociedade capitalista,
pela produção do excedente e pela exploração capital/trabalho. Nas sociedades
que antecedem o capital, a pauperização existia de forma proporcional ao que se
produzia, ou seja, era uma consequência da escassez da produção provocada por
um atraso no desenvolvimento das forças produtivas e não uma consequência do
excedente da produção, tal como ocorre na sociedade capitalista, ampliando cada
vez mais a pobreza e, por conseguinte as contradições desse sistema.
A pobreza absoluta, na perspectiva marxista, segundo Siqueira (2013),
está relacionada diretamente com o desemprego (exército industrial de reserva)
o pauperismo constitui o exército ativo dos trabalhadores e o peso morto do exército
industrial de reserva, sendo, no entanto condição de existência da produção
capitalista, pois quanto maior o exército industrial de reserva maior a
pobreza.
A pobreza relativa nesta mesma perspectiva se caracteriza pela diferença
quantitativa da divisão daquilo que é produzido pelo trabalhador e dividido de
forma desigual entre trabalhador e capitalista. Dessa forma, para Siqueira,
mesmo podendo algum trabalhador ter um salário satisfatório comparado aos
demais que lhe possibilite um nível de vida elevado, o valor que ele recebe é
cada vez menor, comparado com o total da riqueza produzida e apropriada pelo
capitalista. Sendo assim, o valor do salário não anula a exploração controlada
e necessária à existência do capital.
A pobreza relativa para a tradição marxista nada tem a ver com
indicadores geralmente utilizados para a medição da pobreza, sendo estas
determinadas pela redução da parte que cabe aos trabalhadores do total de
valores criados, enquanto cresce a parte apropriada pelos capitalistas. O fato
de produzir mais-valia apropriada pelo capital é o que reproduz e funda na
sociedade capitalista a pobreza relativa.
Para uma análise crítica sobre a pobreza numa
perspectiva marxista, Segundo Siqueira (2013), é preciso considerar o trabalho
não em seu caráter ontológico,
mas em seu caráter abstrato,
cuja relação estabelecida entre os indivíduos sociais se baseiam na compra e
venda da força de trabalho e na apropriação privada nas mãos de uma minoria. É
necessário considerar a questão social como resultante da contradição entre
capital e trabalho e, por fim, levar em conta a relação estreita entre pobreza
contemporânea e a questão social, compreendendo a primeira como uma
manifestação da segunda e que
por tanto, também resulta da relação contraditória entre
capital/trabalho, inerente ao modo de produção capitalista. Logo a pobreza não
se trata de um problema de mercado, resultante do insuficiente desenvolvimento
capitalista, mas se caracteriza como um produto do desenvolvimento desse
sistema.
No MPC (modo de produção capitalista), não é precário o desenvolvimento,
mas é o próprio desenvolvimento que gera desigualdade e pobreza. A riqueza e a
pobreza são produzidas em escala proporcional. Desse modo, não é a escassez que
gera a pobreza, mas a abundância acumulada nas mãos de poucos que gera a
desigualdade e a pobreza absoluta e relativa.
Segundo Siqueira (2013), a compreensão da pobreza implica
necessariamente o estudo da acumulação. Sem considerar os processos que fundam
a acumulação não se pode caracterizar corretamente os fundamentos da pobreza.
Assim, os estudos que desconsideram essa relação (pobreza/acumulação) fazem
parte de uma análise apenas descritiva da pobreza, sem ir aos seus fundamentos.
Nesse mesmo sentido, para essa perspectiva, a intervenção social nas
manifestações da questão social que apontam para a “diminuição” da pobreza, sem
atentar para o processo e volume da acumulação, se caracteriza apenas como
medidas emergenciais, mesmo que necessárias no contexto capitalista, para
amenizar a pobreza sem impactar a estrutura fundante que a gera.
Priscila Morais
Referência: SIQUEIRA. Luana. Pobreza e serviço social: diferentes concepções e compromissos políticos. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2013.
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