Por Priscila Morais
OBS 1: a sigla SSO= Serviço Social
OBS 2: Esse pequeno texto não se enquadra na categoria de texto acadêmico. Se constitui enquanto exercício de estudos.
OBS 2: Esse pequeno texto não se enquadra na categoria de texto acadêmico. Se constitui enquanto exercício de estudos.
Historicamente, o SSO surge, segundo Iamamoto e Carvalho (1996), tendo
como pano de fundo o processo de industrialização e consolidação do
capitalismo, processo este que gestou as duas classes fundamentais existentes
no interior da ordem vigente, quais sejam; o capitalista e o proletariado.
O desenvolvimento das forças produtivas desse período culminou
irredutivelmente na produção exponenciada da pauperização da classe
trabalhadora, o que se convencionou chamar de questão social - em sua base
material -. Ainda sob a luz do pensamento dos autores citados, os mesmo afirmam
que “a questão social é a base de justificativa para o surgimento do SSO.”
No Brasil, o SSO surge, a princípio,
enquanto prática social, dirigida pela igreja católica. É interessante frisar
que nesse momento, o SSO se constitui enquanto protoforma – práticas de
caridade e filantropia organizada por instituições de cunho privado/social – e não
como prática profissional.
Na literatura do SSO acerca de seus
fundamentos, existem dois pontos de partida, formulados pelas teses
endogenistas e histórico critica. A referência usada para tal estudo se
encontra em Montaño, na obra: A natureza do Serviço Social. A primeira tese
defende que o SSO surge da caridade cristã e se desenvolve enquanto prática
profissional a partir da ajuda ao próximo, da benevolência, articulada a princípios
morais e religiosos arraigados. A segunda tese histórico critica, defende o
surgimento do SSO/ Ação social, enquanto prática de caridade regida sob os
preceitos cristãos de solidariedade e justiça, no entanto, tal tese situa essa
prática como protoforma do SSO. Essa posição teórica defende que o SSO enquanto
profissão legitimada e institucionalizada, surge pelas mãos do Estado, com
vistas a enfrentar as expressões da questão social, via políticas sociais.
Netto (2011), que comunga do
posicionamento teórico da ultima tese colocada, situa o surgimento do SSO
profissional nos marcos do capitalismo monopolista, nas palavras do autor: “o
serviço social é indivorciável da ordem monopólica.” Segundo o autor, o SSO se
concretiza como profissão a partir do momento em que o assistente social passa
a exercer funções alheias a sua vontade, em outras palavras; o SSO se torna
profissão quando o agente passa a ser demandado pelo Estado ou pelo
empresariado, para desempenhar funções dentro de um padrão institucional,
técnico e burocrático e não mais em função de suas motivações, ditadas pela
certeza de uma vocação.
Sob a luz da segunda tese posta no
penúltimo parágrafo, compreendemos que o SSO, enquanto profissão surge em um
contexto, no qual o Estado burgês, na fase dos monopólios, passa a assumir
algumas demandas da classe trabalhadora, nas palavras de Netto (2011) “de forma
estratégica, continua e sistematizada” desempenhando sua função principal, qual
seja; atender aos interesses da classe dominante. A profissão emerge de uma
necessidade do Estado em intervir nas expressões da questão social, com o
objetivo primeiro de manter a ordem e garantir a reprodução e controle da
classe trabalhadora, a serviço da acumulação. Esse Estado nomeado por alguns
autores como “Estado interventor”, segundo Netto, concretiza as políticas
sociais como concessões frente às pressões exercidas pela classe trabalhadora.
No entendimento do autor, “não há dúvidas de que as políticas sociais decorrem fundamentalmente
da capacidade de organização e mobilização da classe operária e do conjunto dos
trabalhadores”
O Estado legitima o SSO como profissão
técnica e especializada, nos marcos da divisão social do trabalho, nos dizeres
de Iamamoto e Carvalho (1996), com vistas a elaborar e executar as políticas
sociais na realidade cotidiana vivenciada pela classe vulnerabilizada. A
profissão de SSO se dá na ordem monopólica a serviço do Estado e do grande
Capital. A profissão atua principalmente junto aos trabalhadores e suas
famílias e contribui de forma indireta no favorecimento do processo produtivo, através
dos serviços sociais para a garantia da subsistência dos trabalhadores -
produtores diretos da riqueza social-.
Alguns autores divergem acerca da
funcionalidade da profissão na sociedade e colocam o SSO como uma profissão
contraditória que ora atende ao Estado/
Capital, ora atende a classe trabalhadora. Diante do que foi posto
anteriormente, é possível apreender que o SSO surge a serviço da classe
dominante, logo é uma profissão geneticamente conservadora. A contradição nessa
profissão é evidenciada por aqueles que não a compreendem em sua totalidade,
estes são os mesmos que ainda defendem o Estado como uma instituição
contraditória ou neutra, a serviço do bem comum, tecendo um “apoio crítico” ao
mesmo, o que no entendimento de Lessa (2013) se constitui em: “qualquer apoio
ao Estado, seja ele critico ou não, é certamente uma oposição declarada aos
trabalhadores”.
É necessário ter claro que, não há
SSO crítico, ou SSO revolucionário. O assistente social não se constitui
enquanto um sujeito da transformação social. No entanto, é possível e
necessário o dialogo com a teoria social de Marx, a fim de subsidiar uma
articulação coerente entre teoria e prática.
Netto faz referência a importância
de apreender as possibilidades e limites da ação profissional no contexto dessa
sociabilidade, bem como do principal instrumento de sua ação – a política
social -. Ambos se caracterizam como necessários nos marcos da ordem vigente,
mas não se põe enquanto ferramentas capazes de findar com os males sociais, aos
quais são demandados a intervir. O SSO surge nos limites do capitalismo
monopolista e são nesses limites que o SSO se esgota. Segundo Netto, em seu
texto “ As 5 notas a propósito da questão social” o autor termina o texto com os
seguintes dizeres, com os quais também concluímos esse breve texto sobre a
profissão de SSO. Nas palavras do autor: “Ainda esta longe o futuro no qual o
serviço social vai se esgotar, pelo próprio exaurimento do seu objeto”.
Referências:
IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul.
Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação
histórico-metodológica. São Paulo, Cortez, 1996.
LESSA, Sérgio.Capital e Estado de Bem Estar:
o caráter de classes das políticas públicas. São Paulo: Instituto Lukács,
2013.
NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e
Serviço Social. 8ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
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