segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A pobreza no liberalismo de Smith e Keynes e no neoliberalismo de Hayek.




 Parte 2

A riqueza e a pobreza na fase do liberalismo clássico, concebida por Adam Smith, segundo Siqueira, remete a uma questão de liberdade ou escolha, logo nesse sentido, compete ao indivíduo pro meio de suas capacidades e esforços restritos os bons ou os maus resultados referentes à sua ascensão econômica social.

Para Smith, a pobreza e a riqueza são dois processos simultâneos, uma gera a outra. O autor afirma: “onde quer que haja grande propriedade, há grande desigualdade, Para cada pessoa muito rica deve haver no mínimo quinhentos pobres e a riqueza de poucos supõe a indigência de muitos.” (SMITH apud SIQUEIRA, 2013, p.47).

Dessa forma, a pobreza pra Smith, se expressa por meio do atraso econômico, logo este seria um problema indiretamente passível de se eliminar, levando em consideração o seguinte pensamento: “É o crescimento da produção de todos os setores econômicos, decorrente da divisão do trabalho, que produz numa sociedade bem governada, essa opulência universal, que se estendem as camadas inferiores da população.” (Smith apud Siqueira, 2013, p.47).

Smith presumia que o progresso econômico de um capitalismo dinâmico com livre concorrência promoveria a eliminação da pobreza com a geração de empregos e renda, assim o padrão de vida dos trabalhadores subiria com o aumento progressivo das taxas salariais e da produtividade do trabalho.

A pobreza no liberalismo de Keynes se caracteriza pela incapacidade para o consumo, levando a uma queda da demanda efetiva do mercado, que por sua vez é resultante de escolhas individuais. Diferente do liberalismo clássico de Smith que culpabiliza o indivíduo por sua condição de pobreza, o liberalismo de Keynes responsabiliza o sistema pelo enfrentamento da pobreza, porém não há nesse pensamento se quer o mínimo de resquício de um trato histórico critico sobre o “fenômeno” da pobreza, visto que Keynes se opunha ao pensamento marxista, seu interesse era a reprodução do sistema capitalista com uma proposta de Estado que alterou a leitura liberal clássica, um Estado que ocupa o papel de restabelecer o equilíbrio econômico estimulando a própria economia de modo a se tornar um Estado intervencionista.

No neoliberalismo de Hayek a pobreza é fundamentada nos princípios liberais, logo torna a ser vista como questão de responsabilidade individual, sendo a desigualdade necessária, pois serve para impulsionar o desenvolvimento. Hayek classifica o pobre como o sujeito que fracassa na livre concorrência do mercado.




O que fazer com os pobres? Hayek dirá: “existem perdedores; eles são pobres por que são perdedores e é claro que o Estado não pode ser insensível a isso”. O que dizer então das bolsas? Dar bolsas... Bolsas e não direito social organizado em torno do trabalho. Bolsa para aliviar o sofrimento, para aliviar a pobreza. [...] Assim eles classificam: “aqui nos temos a faixa dos extremamente pobres... estes ganham a bolsa X”. Vocês sabem do que eu estou falando. Bolsa assistência e não mais seguridade social. É dessa forma que são estruturadas as políticas dos anos 1980 e 1990 em diante. (Leher, apud Siqueira, 2013, p. 78 e 79).





            A desigualdade para Hayek seria as diferentes condições de cada indivíduo no processo da concorrência. A desigualdade não advém de um sistema estruturalmente desigual, mas da desigualdade de competências individuais, sendo assim para o autor, não há qualquer responsabilidade do modelo de produção vigente no sucesso ou insucesso dos indivíduos no livre jogo do mercado. Para isso, se faz necessário um Estado que garanta essa liberdade, abrindo mão da regulação desse mercado. Com isso, a política social compreendida como emergencial e focalizada na parcela mais pobre da população é aceita pelo neoliberalismo, desde que não prejudique o livre jogo do mercado.

            A resposta à pobreza na lógica neoliberal passa a ser dirigida a partir de programas sociais, numa lógica de focalização, privatização e descentralização. O principio de universalização das políticas sociais são claramente substituídos por princípios de restrição aos mais pauperizados, o que apresenta uma política social residual que intervém somente no extremo necessário, que não pode ser resolvido pelo mercado, pela família, pela comunidade ou por ação filantrópica da sociedade civil via terceiro setor, que segundo Siqueira (2013), surge no neoliberalismo para legitimar os processos que deslocam a centralidade do Estado na responsabilização da questão social.


Priscila Morais 


Referência: SIQUEIRA. Luana. Pobreza e serviço social: diferentes concepções e compromissos políticos. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2013.


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