quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Marx no Serviço Social

Há quem atribua características negativas ao Serviço Social e o aponte como profissão de práticas e políticas assistencialistas, talvez a denominação transmita um equivoco de significados, para estes indico as obras de Marilda Vilela Iamamoto, Maria Lúcia Martinelli, José Paulo Netto, Carvalho e tantos outros teóricos do Movimento de Reconceituação do Serviço Social.
Após a II Guerra Mundial os países capitalistas lançaram estratégias em defesa do capitalismo, pois temiam a expansão do socialismo, visto que havia a construção do bloco socialista representado pela União Soviética. Uma dessas estratégias foi a implantação de empresas norte-americanas e européias na América Latina. Assim sendo, uma parte da burguesia local (aliada aos EUA) era a favor do capital internacional e a outra defendia o nacionalismo, isso provocou uma crise na burguesia, sendo que a parte da burguesia atrelada aos estadunidenses resolveu a crise com o golpe de 1º de abril de 1964, o golpe militar, que em apoio à concentração do capital proibiu o sindicalismo e agravou a exploração do/a trabalhador/a.
Com a erosão da base do Serviço Social tradicional iniciou a renovação do Serviço Social brasileiro que se deu em três perspectivas: a modernizadora baseada na teoria positivista; a de renovação do conservadorismo baseada na teoria fenomenológica; e a de intenção de ruptura baseada no marxismo. Aconselho a leitura de todas as perspectivas, mas falarei um pouco sobre a terceira.
Perspectiva da Intenção de Ruptura :
Surge com a proposta de romper as práticas tradicionais do Serviço Social, vinculadas aos interesses da classe dominante, discute a relação entre a profissão e a sociedade capitalista. Foi manifestada no âmbito dos movimentos democráticos e das classes exploradas e subalternas (inicio dos anos de 1960) quando “ [...] O Serviço Social – de forma visível, pela primeira vez- vulnerabilizava-se a vontades sociais (de classe) que indicavam a criação, no marco profissional, de núcleos capazes de intervir no sentido de vinculá-lo a projeções societárias pertinentes às classes exploradoras e subalternas. (Netto, 2006, p.256) Portanto, assistentes sociais que optaram politicamente por trabalhar a favor dos explorados e subalternos conceberam as primeiras idéias de intenção de ruptura das práticas tradicionais, uma vez que é preciso lembrar que o objeto de trabalho do Serviço Social é a questão
social (resultante das relações de conflito entre capital x trabalho que se manifesta em suas múltiplas expressões: desemprego, violência, fome, discriminação e etc.), e agora as/os profissionais optaram em atuar em prol dos trabalhadores/as (segundo Iamamoto trabalhador  é tanto quem está empregado quanto quem está  desempregado), baseando-se na teoria marxista.
Vale ressaltar que essa perspectiva se propagou no período de crise da ditadura, originando produções teóricas voltadas para as questões do continente latino-americano, rompendo com práticas profissionais, aumentando a participação política de assistentes sociais nos movimentos sociais, sindicalistas e partidários, porém o movimento de reconceituação do S. Social (que surge no âmbito da academia sendo protagonizado por estudantes-militantes, docentes e abrangendo a categoria de assistentes sociais) foi desfeito pelas ditaduras burguesas e por divergências no próprio grupo de assistentes sociais. Assim sendo, hoje existem ainda as três perspectivas, de modo que há docentes que encaminham seus projetos conservadores e profissionais com práticas atreladas á tendência de renovação do conservadorismo; portanto o projeto ético-político-profissional hegemônico fundamenta-se na teoria marxiana, se materializando no código de ética profissional (1993) que norteia o pensar e o fazer profissional da(o) assistente social.

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