domingo, 6 de setembro de 2015

Serviço Social, profissão contraditória?



Olá pessoal


            Conforme falei no penúltimo post, aqui está o texto tratando sobre a discussão do Serviço Social ser ou não ser uma profissão contraditória.
Escrevi esse texto com base nas leituras que tenho feito, mais exatamente na leitura do livro “RELAÇÕES SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL” de Iamamoto e Carvalho.
No texto, abordo (sem me aprofundar) algumas categorias teóricas muito densas como por exemplo a ‘Questão Social,’ ‘o Estado’, ‘Política Social’, ‘salário’ entre outras. Faço uso de alguns parênteses ( ) para explicar de forma simplificada e para favorecer a compreensão (de acordo com o meu entendimento) de algumas dessas categorias.
Considerações feitas, vamos ao texto.



Serviço Social, profissão contraditória?



O Serviço Social nasce da necessidade do Estado (enquanto super estrutura a favor dos interesses da estrutura econômica, ou seja, a classe dominante) para “enfrentar” as expressões da questão social (que é gestada na própria base da sociedade capitalista, na relação de exploração capital/trabalho, visto que ao passo que o capitalismo se desenvolve em produção e acumulação da riqueza, proporcionalmente também se produz e reproduz pobreza, que se constitui em uma das bases materiais da questão social, que é inalienável a esse modo de produção). O Estado que mistificadamente tenta aparecer como uma instituição a serviço do “bem comum”  tem suas bases de interesses fortemente estabelecidas sob o domínio da classe burguesa ( o Estado nasce “pelas mãos” da burguesia).
            O agravamento da questão social, embora seja inerente a essa sociedade, não é favorável a seus interesses (tá aí mais uma contradição do modo de produção capitalista), pois quem sofre diretamente com as expressões da questão social, são os trabalhadores, que por sua vez, se constituem como a mercadoria especial, aquela acrescida de mais valor que é o principal objetivo do capital para manter ativo o ciclo de acumulação e reprodução expansiva. Desse modo, é necessário manter (minimamente) as condições vitais desse trabalhador, para que o mesmo continue a serviço do capital, já que o montante que lhe é pago mensalmente (o salário – que é a quantia em dinheiro paga ao trabalhador por sua jornada de trabalho ou horas de trabalho e não exatamente pelo seu trabalho. Se o salário em si pagasse o trabalho do trabalhador, como a ideologia dominante faz entender, não seria possível extrair mais valia desse trabalhado, sendo esta o principal fim do capital) não é suficiente para manter suas condições mínimas de subsistência. Surge então a política social, que segundo Iamamoto e carvalho, bem como, o Assistente Social, nasce com a função de atuar indiretamente no processo produtivo, junto à classe trabalhadora para que essa possa se alto produzir e reproduzir.
            Em síntese, a profissão de Serviço Social é essencialmente conservadora, esta nasce com o fim ultimo de atuar na reprodução da classe trabalhadora, em favor do capital. Não há contradição na profissão, a  contradição está no próprio sistema vigente.
            Passei por alguns períodos (os primeiros da graduação), nos quais ouvia dizer que “o SSO é contraditório, ora serve ao Estado, ora serve a classe trabalhadora” (e isso sempre me trouxe certa inquietação teórica), porém ao longo do curso tive acesso a outras disciplinas e leituras que desmistificaram esse entendimento sobre a profissão. Sobre essa frase aspada, compreendo hoje que o Assistente Social é demandado, na maioria das vezes, pelo Estado (que não é uma instituição neutra) para atender, via política social (de forma minimalista e paliativa) as demandas da classe trabalhadora, mas que essa “atenção” tem interesses que são ocultados pela predominância da ideologia do capital que produz e reproduz seu modo de pensar na sociedade. A “atenção” das demandas da classe trabalhadora pelo Assistente Social é uma imposição do Estado, a profissão de serviço Social nasce para isso.
            Não existe Serviço Social revolucionário, Serviço social marxista ou Serviço Social crítico. No entanto, há possibilidades que categoria profissional de assistentes Sociais dialoguem com a teoria social de Marx e a partir disso, subsidie uma prática profissional critica, com base na realidade social sob uma perspectiva de totalidade. Para além da prática profissional, também é possível e interessante esse dialogo para o processo de desenvolvimento de pesquisas e construção de conhecimento na área de SSO.
            Com isso, é importante que, enquanto Assistentes Sociais tenhamos clareza dos limites e possibilidades da profissão no seio dessa sociedade, apreendendo a funcionalidade da profissão e de seus instrumentos de atuação e intervenção na realidade (política social), bem como, os movimentos contraditórios basilares e inerentes a essa sociedade. Esse entendimento é de suma importância para subsidiar uma prática profissional que seja coerente (dentro do possível) e comprometida com um projeto societário alternativo, defendido pelos princípios legais que norteiam a profissão.


Priscila Morais

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