quinta-feira, 15 de agosto de 2013

MOMENTOS METODOLÓGICOS



O processo interventivo do Serviço Social, na perspectiva crítica se efetiva através dos chamados momentos metodológicos que se articulam organicamente, uma vez que são referenciados pelo método dialético.

Para a efetivação desses momentos é preciso o profissional utilizar:
As abordagens (individual, grupal e comunitária), os instrumentos, as técnicas e as  atividades que se constituem instâncias concretas e motivadoras para a população uma vez que, buscam responder às suas necessidades. Como a nossa particularidade é a assistência Social as atividades se configuram nessa área. Entretanto, são as ações profissionais que vão concretizar os objetivos profissionais.

Como fazer – processo interventivo do Serviço Social.
Momentos metodológicos - “o método é um conjunto de procedimentos interligados e interdependentes, que fundamentado em uma teoria científica de análise da realidade,  adaptado a ela, permitirá orientar as experimentações profissionais, em oposição aos modelos mecanicistas do conhecimento”. Objeto e sujeito não existem independentemente.
Momentos metodológicos:
· conhecimento sistematizado da realidade (dimensão  investigativa);
· estabelecimento de estratégias e táticas (dimensão estratégica);
· avaliação (dimensão avaliativa).
Estas três instâncias se desenvolvem articulando objeto e objetivo.
Para a efetivação desses momentos é preciso o profissional utilizar:
As abordagens (individual, grupal e comunitária), os instrumentos, as técnicas e as  atividades que se constituem instâncias concretas e motivadoras para a população uma vez que, buscam responder às suas necessidades. Esses momentos pressupõe criar formas de registro, pesquisar, planejar, monitorar e estabelecer indicadores de avalição. Como a nossa particularidade é a assistência Social as nossas ações se configuram nessa área. Dessa forma, as ações profissionais é que vão concretizar os objetivos profissionais.

1º MOMENTO DE CONHECIMENTO SISTEMATIZADO DA REALIDADE – DIMENSÃO INVESTIGATIVA.
A teoria e o método encontram-se imbricados na perspectiva marxista o que implica:
· reconhecer a classe trabalhadora como sujeitos da ação profissional;
· a ação profissional é construída como processo dinâmico, percebida como processo e como movimento, portanto, desconstruída e reconstruída cotidianamente, a partir do lugar onde é desenvolvida, contemplando a  análise  conjuntural, institucional, social na perspectiva da totalidade da vida social. A condição para reconstrução da realidade é a unidade sujeito /objeto que implica na relação de unidade entre teoria e prática.

Para compreender e intervir na realidade com competência é preciso:
· competência teórica, técnica, política, ética e relacional.

O Assistente Social em sua prática cotidiana defronta-se com:
· imposições institucionais -  normas rígidas, regulamentos, normas ligadas a valores políticos, religiosos, culturais, étnicos, diferenças de projeto de sociedade. O importante é nessa contradição buscar possibilidades para construir projetos que venham a superar limites institucionais na direção da consecução dos objetivos profissionais e do atendimento com qualidade à população usuária.

· fenômenos conjunturais – momento histórico favorável ou desfavorável, para caminhar na direção do projeto de sociedade de interesse da população usuária. Por isso é fundamental saber decifrar a conjuntura econômica, política, administrativa da instituição seja pública ou privada.
· fenômenos estruturais -  impostos pelo sistema capitalista.
· limitações profissionais -  falta de clareza do projeto político crítico da profissão, bem como da suas identidade profissional , bem como desatualização profissional, bem como não participação em fóruns de discussão dos interesses coletivos.

Para uma prática com efetividade é preciso conhecer a realidade (através da pesquisa), analisando as seguintes questões:
· econômicas – relações de produção; conhecer o lugar que os usuários ocupam no modo que a sociedade tem de produzir a riqueza, ou seja a ralação com o trabalho;
· ideológicas, políticas e culturais – estrutura de poder derivada das relações sociais  dadas relações de forças, mapeamento ideológico, valores, interesses, aspirações, consciência, representações, entre outros.
· sociais – de educação, de lazer, de segurança, de habitação, saneamento básico, dinâmica familiar, e as outras questões que compõem a qualidade de vida do homem.

É importante compreender que estas questões serão identificadas a partir das demandas postas pela população usuária, que nada mais são que as expressões concretas da vida cotidiana decorrente do trabalho, que se constitui a instância fundante da sociabilidade. Estas expressões são configuradas nas diversas relações estabelecidas no trabalho, família, vizinhança, nos bairros, sindicatos, associações, igrejas, etc.
Daí, que estas demandas têm que ser compreendidas a partir das relações de produção capitalista e da correlação de forças que possa existir na sociedade brasileira, compreendendo e decifrando à questão social. Dessa forma, o assistente social poderá localizar na totalidade os elementos constitutivos das singularidades. A ação profissional terá como fundamento a realidade concreta, a partir da interpretação crítica, visando a superação.
Nessa perspectiva entende-se que a modificação do todo só se realiza, após um acúmulo de mudanças nas partes que o compõem.
A partir daí, poderá realizar-se a interpretação diagnóstica. Para isso precisamos colher dados em relação a todas as questões que compõem a qualidade de vida de uma população, tais como: trabalho/renda/gasto, saúde, educação, habitação, esgoto, lixo, cultura, organização participação, níveis de consciência, segurança pública, potencialidades, expectativas, qualificação profissional, lideranças, lazer, transporte, comunicação.
Os dados obtidos deverão ser interpretados e coordenados. Dessa forma, a partir das categorias teóricas encontram-se os laços existentes entre os fenômenos descobrindo-se a essência dos mesmos, percebendo assim seus condicionamentos.
Ainda nesse momento teremos condições de estabelecer prioridades e formular alternativas de ação.
O conhecimento é processual e a partir das intervenções realizadas, estes poderão ser reformulados, ou negados e serão transformados em novas sínteses.

Para tal precisamos de conhecimento da realidade – para conhecer nos inserimos e utilizamos estratégias e táticas, abordagens (individuais, grupais e comunitárias), instrumentos, atividades e ações profissionais.
O que é conhecer a realidade? e para que conhecemos?
Compreender a realidade é captar seus movimentos contraditórios expressos nas desigualdades sociais políticas, econômicas, políticas e culturais.
É captar detalhes das formas como se expressa a exclusão social no cotidiano da população.
É apreender a pobreza material e a política, buscando as conexões essenciais. Isto quer dizer que teremos de estabelecer a relação entre os fenômenos e suas essências, a partir do real vivido pela população.
Apreender a realidade é percebê-la detalhadamente e para isso é preciso territorializar e qualificar a exclusão social.

FORMAS DE INSERÇÃO NA REALIDADE PARA CONHECIMENTO:
Como o assistente deve se inserir na realidade para não somente conhecê-la, mas para realizar a intervenção propriamente dita.

1 - Institucional:
Conhecimento conforme análise institucional e análise de conjuntura.
· A partir do conhecimento (mapeamento/qualificação da exclusão) apreende os objetos de intervenção, bem como às categorias teóricas , buscando-se as chamadas teorias setoriais que servirão de subsídios científicos. Estes objetos de intervenção sempre estarão circunscritos nas respostas à pergunta que exclusão é esta? Como a qualifico?;
 · Insere-se em programas e projetos existentes ou os elabora,
· Parte das demandas institucionais postas e infere às profissionais;
· Elabora o perfil de usuário. Este perfil deverá conter todas as questões que determinam o padrão básico de inclusão social. O padrão básico de inclusão é composto pelas necessidades humanas básicas – abrange respostas às questões materiais e políticas;
· sistematiza os conhecimentos, elabora  indicadores de avaliação- tendo como horizonte a inclusão e a melhoria da qualidade de vida;
· Elabora projeto de intervenção;
· Elabora instrumentos de registro.

               
2 - Comunitário:
· Busca conhecer as questões gerais da comunidade, que dizem respeito à qualidade de vida: saneamento básico, água, iluminação pública, trabalho e renda, aspectos culturais, educacionais, lazer, existência de grupos formais e informais, comunicação, transporte, organização, participação, níveis de consciência.
·  capta a existência de movimentos organizativos, identifica as lideranças formais e potenciais;
· perfil detalhado da população, ou seja,  quem são as famílias? composição familiar, faixas etárias, tipos de famílias – nuclear ou estendida, monoparental, bem como as situações de educação, de trabalho, de saúde, e demais questões que compõem um padrão básico de vida. Pode-se utilizar como instrumento a pesquisa inclusive a pesquisa participante;
· identifica-se os objetos de intervenção. Estabelece prioridades. Caso utilize a pesquisa participante elabora-se o planejamento participativo;
· desenvolve-se a intervenção, avalia, sistematiza e democratiza os resultados.

No trabalho em comunidades poderemos desenvolver o seguinte esquema metodológico:
1º momento –conhecimento da realidade – determinação das problemáticas – inventário das situações – registro - apresentação aos grupos.
2º momento – Problematização – discussão com a comunidade, estabelecimento de prioridades – compatibilização entre o desejável e o possível.
3º momento – organização para a ação -  dividir trabalho por eixos, - nuclear os grupos em  função do trabalho, aglutinando interesse. Determinação de objetivos, programação de atividades, distribuição de tarefas e execução dos projetos.
Neste momento é muito importante não esquecer a identificação de lideranças, grupos informais, quais os tipos de formas organizativas existentes. Deve-se sempre aproveitar os grupos existentes.
4º momento – Acompanhamento e avaliação; reajuste dos objetivos; avaliação do impacto na realidade.

2.1 - Abordagem grupal.
Os grupos podem ser formais e informais, bem como motivados e espontâneos; passam por fases que deverão ser identificadas e abordadas de maneira competente.
Fase pré-grupo – é a fase inicial do grupo, caracteriza-se pelo predomínio de interesses e objetivos individuais que podem ser:
· desejo de ser como pessoa;
· obter prestígio;
· afirmar-se;
· buscar reconhecimento;
· por conta disto acontece choque de valores e choques de expectativas.

Compete ao assistente social:
· compreender que o desenvolvimento global do grupo recebe influência positiva ou negativa da estrutura emocional do grupo;
· criar relações pessoais de ajuda através de uma conduta que estabeleça uma atmosfera permissiva, onde as interações entre os participantes sejam estimuladas;
· considerar que devido a situação inestruturada do grupo, qualquer situação que mereça mudança de idéia , comportamento ou necessidades desencadeia inquietudes;
· realizar atividades e dinâmicas para fortalecer a interação  que possibilite a manifestação dos  sentimentos;
· aplicar técnicas de estímulo ao diálogo, uma vez que o silêncio é muito comum nessa fase;
· observar as normas com as quais o grupo vai se organizando;
· o assistente social nessa fase realiza algumas tarefas do grupo;
· o apoio na área emocional, os indivíduos precisam de estímulo.
  Papel do assistente social:
· informante – não deve se negar a ajudar a descobrir;
· facilitador da dinâmica.

Fase de transição

Nesta fase, as pessoas buscam objetivos comuns, que ultrapassem os interesses individuais; ocorrem os conflitos de papéis e liderança, competição. Alguns indivíduos buscando seus papéis perturbam a estrutura existente.
O assistente social deve:
· facilitar a comunicação;
· utilizar atividades para facilitar a reflexão e o diálogo;
· levar as pessoas a se compreenderem;
· avaliar o andamento do grupo;
· conhecer as relações afetivas ou não dentro do grupo – distância e proximidade das relações de grupo;
· focalizar a atenção na pessoa no papel e no grupo;
· tentar elaborar um plano de ação.

Grupo

· sentimento de nós – objetivo coletivo – tornando-se coeso e capaz, os objetivos individuais ficam subordinados aos do grupo;
· aceitam-se mutuamente;
· interagem;
· há um consenso de 3 expectativas e um compromisso com os objetivos;
· redefinição de papéis de acordo com as potencialidades;
· estrutura organizada de comunicação- poder – posições, etc. Nome – rotinas.
O assistente social deve:
· capacitar e integrar;
· trabalhar os problemas do grupo;
· possibilitar ao grupo adquirir novas capacidades,  redimensionar sua cultura, enfrentar novas situações.

2º - MOMENTO METODOLÓGICO- ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS E TÁTICAS – DIMENSÃO ESTRATÉGICA

Considerando que a nossa intervenção profissional possui uma direção estratégica contrária ao projeto burguês vigente, as nossas estratégias profissionais são sempre estabelecidas a partir de uma profícua análise da correlação de forças, das relações de poder, entre outros para podermos definir processos que contribuam para a desestruturação do que é imposto pelos que dominam ao cotidiano da população subalternizada e que também possibilitem seu fortalecimento (empoderamento).   Segundo Faleiros “As estratégias são processos de articulação e mediação de poderes e mudança de relações de interesses, referências e patrimônios em jogo, seja pelo rearranjo de recursos, de vantagens e patrimônios pessoais, seja pela efetivação de direitos, de novas relações ou pelo uso de informações. [...] implicam investimentos em projetos individuais e coletivos que tragam a rearticulação de patrimônios, referências e interesses com vistas à reprodução e à representação dos sujeitos históricos. Reproduzir-se é atender às necessidades de sobrevivência nas relações sociais dada historicamente e representar-se significa o processo de reconstrução da identidade.”
A partir da compreensão da realidade, pode-se construir um quadro  estratégico de ação em que deverá ser composto da explicitação das problemáticas, mediante os eixos ou projetos; objetivos gerais e específicas, atividades, instrumentos, ações profissionais e indicadores de avaliação. Considerando que a intervenção profissional possui uma direção estratégica contrária ao projeto burguês vigente, as estratégias profissionais são sempre estabelecidas a partir de uma profícua análise da correlação de forças, das relações de poder, entre outros, para podermos definir processos que contribuam para a desestruturação do que é imposto pelos que dominam ao cotidiano da população subalternizada e que também possibilitem seu fortalecimento (empoderamento).

  MOMENTO – MOMENTO AVALIATIVO – DIMENSÃO AVALIATIVA
Para avaliar a prática profissional é preciso construir indicadores de avaliação –  parâmetros qualitativos e quantitativos, que servem para detalhar em que medida os objetivos de um projeto foram alcançados. Na avaliação procura-se identificar avanços ou não em relação aos seguintes efeitos:
· econômico – aumento da renda, da melhoria da condição da reprodução biológica;
· político – avanço no tocante a organização, participação, mobilização, capacidade de luta na busca dos seus direitos sociais e cidadania;
· ideológico – avanço na consciência  na direção da criticidade. Significa alteração do conhecimento em relação ao desconhecimento e reconhecimento do mundo a partir dos nexos e conexões estabelecidos entre fatos, a história pessoal e a história do grupo, da classe , do povo.. Estes nexos são justamente personalizados nas relações paternalistas, e só o desvendamento, corta e rompe com esses laços.
Estes efeitos consistem justamente na alteração de um vínculo determinado de uma ordem, de uma relação estabelecida. A capacidade de alterar uma correlação de forças supõe poder, potencial de recursos e estratégias para articular forças e alianças, debilitar e dividir o inimigo. A acumulação de forças é um processo de avanços, recuos, de mobilização, organização, atacando e defendendo. É necessário analisar a situação concreta, inventariar os aspectos frágeis do inimigo e os aspectos mais fortes das próprias forças. Isto é competência política.

Nenhum comentário:

Postar um comentário