domingo, 21 de julho de 2013

Pobreza, pobrezas e garantia de renda. Parte II



Os BPC e o PBF beneficiam populações distintas no que se refere a sua participação no mercado de trabalho. Os benefícios sob responsabilidade da previdência social, assim como o BPC, visam beneficiar as populações reconhecidas como dispensadas ou impossibilitadas, temporária ou definitivamente, de arcarem com sua sobrevivência pelo próprio trabalho. O Bolsa Família, por outro lado, alcança principalmente aquelas famílias cujos membros adultos estão em idade economicamente ativa e participam do mercado de trabalho.
             O surgimento de benefícios monetários não ancorados na contribuição social ou na comprovação do exercício do trabalho legitima e faz emergir tensões expressivas no campo da proteção social. A assistência social, ao contrario, do seguro social, não corresponde ao principio da reciprocidade. De fato, além de estar assentada na separação entre os que pagam e os que recebem a assistência social exige a comprovação do estado de necessidade para o acesso ao beneficio. Mas os problemas são efetivos quando se trata da parte do sistema de proteção social que atende a população em idade ativa e em condições de trabalho.
            O beneficio sem a contra partida da contribuição a população apta para o trabalho parece questionar a própria obrigação do trabalho que organiza as sociedades modernas. Ao mesmo tempo significa um reconhecimento da incapacidade do sistema econômico em prover oportunidades à população.
            Contudo, Jaccoud diz que a longa crise econômica associada à redução da criação de postos de trabalho formais e à queda da renda média do trabalho, permitiu dar corpo à instituição de uma política de garantia de renda para um ampliado grupo da população em situações vulneráveis da sociedade. Nesse contexto a assistência social passou a se responsabilizar por um braço distinto e complementar da proteção social. Atingiu uma população impossibilitada de obter renda satisfatória via sua inserção no mercado de trabalho, bem como, de assegurar, via contribuição, de uma contribuição social diante da incapacidade do trabalho.
            Entretanto, a ampliação do escopo da cobertura dos programas de garantia de renda ainda não está consolidada. A adoção dos benefícios assistenciais depende da clara afirmação de um projeto político abrangente que mobilize um novo patamar de intervenção do Estado no campo social. Essa não é uma trajetória simples, como tem mostrado no caso do Brasil.


Priscila Morais. 


Referência:

  JACCOUD. Luciana. Pobres, pobreza e cidadania: os desafios recentes da proteção social.


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